O trânsito nos supermercados
[Crônica de 30 de dezembro de 1998]
Cuidado, desvie, breque, pare, olhe para o lado, lá vem um louco em excesso de velocidade… atenção, atenção… atenção, dirija defensivamente e procure evitar acidentes, mesmo com os outros não ligando a mínima para a sua segurança.
A cada dia que passa o trânsito vai ficando mais e mais ensandecido. Mais e mais loucos entram nas vias, mais e mais fominhas tentam passar na frente de qualquer jeito, mais e mais mães param em fila dupla, mais e mais irresponsáveis colocam o bem-estar do próximo em risco.
Não tem cabimento, mas é um sinal dos tempos modernos. Ou, melhor, é a marca registrada dos tempos modernos, onde levar vantagem acima de tudo e o culto ao “eu” tomaram proporções, pelo menos neste país que ainda buzina dentro dos túneis, inacreditáveis.
O pior é que não há muito para se fazer. A mudança de hábitos leva gerações para acontecer e para que eles sejam mudados é necessário que os integrantes das gerações atuais estejam dispostos a ensinar os membros das futuras gerações a se comportarem dentro das novas regras.
E aqui a gente vê de tudo, menos hipotéticos alguéns querendo que seus filhos mudem. Pelo contrário, é quase imperativo que a criança seja mais. Como nas escolas a agressividade, por conta da permissividade e do medo, foi mudada para competitividade, não tem como se mudar alguma coisa.
O resultado é esse: você ter que andar prestando atenção para todos os lados, inclusive em cima e em baixo, sob o risco de se machucar e feio se não o fizer.
E o que era um prazer – o prazer de fazer compras pelos corredores dos supermercados – se transformou em mais um martírio, tão ruim ou pior do que o trânsito de nossas ruas.
De uma ideia do ouvinte Maurício Penteado.
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