Quem pode, pode
Uma vez, vários anos atrás, num seminário internacional de resseguros, eu almocei com um big shot do partido republicano americano e, conversando com ele, que estava pessimista, ponderei que, enquanto os Estados Unidos tiverem dez porta-aviões nucleares com mais de setenta aviões de combate de última geração em cada um, dificilmente eles serão desafiados por qualquer outra nação, pelo menos no médio prazo.
Ele concordou, mas externou a preocupação com quem teria o poder de dar a ordem para os porta-aviões. E ele estava certo. É olhar os pontos de vista do Senhor Trump para não se ter dúvida disso.
É aí que eu gostaria de tecer alguns comentários sobre as pretensões do governo brasileiro ter um grande papel no cenário internacional. Em política, manda quem pode e obedece quem tem juízo. E em geopolítica global, tem poucos atores com capacidade de colocar suas fichas na mesa com cacife para ganhar o jogo.
Numa guerra como a da Ucrânia, onde um dos lados tem o maior arsenal nuclear do planeta, com certeza a parada é dura. E em Gaza, a mão não é mais baixa.
Para falar grosso, tem que ter poderio militar ou riqueza extrema ou alguma outra vantagem estratégica que coloque o outro lado no canto. O Brasil não tem nada disso. Não temos vantagem estratégica, não temos riqueza extrema e nossas forças armadas não são famosas pelo seu arsenal moderno ou pelo seu poder de fogo.
Quando, para completar o quadro, o Presidente fala o que não deve ser dito ou, sem ter que escolher nada, escolhe o lado errado, só pode dar no que está acontecendo. Ninguém leva o Brasil a sério e, para piorar, ainda estamos sendo vistos como párias, na boa companhia do que tem de pior na terra. Mais que nunca é hora de baixar a bola.
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