O descobrimento não é feriado
[Crônica de 30 de abril de 2004]
Até hoje eu não consegui entender porque o dia 22 de abril não é feriado. Um país que tem os feriados que o Brasil tem e que quando não tem inventa, ou emenda, não comemorar a data do começo de tudo é no mínimo muito estranho.
Dia 22 de abril foi o dia que Cabral chegou nas costas da Bahia e deu de cara com o monte Pascoal, que do alto de sua majestade saudou a frota portuguesa em nome dos índios que andavam nus e fascinaram Caminha.
Aliás, quem fascinou o nobre escrivão da frota não foram os índios, mas as índias que tinham as vergonhas altas e raspadinhas, muito diferentes das vergonhas deixadas no reino.
A frota veio, ancorou, desceu e se deslumbrou. Em seguida agradeceu, rezando missa que virou quadro famoso, onde se podem ver os índios e índias nus, confirmando as informações do escrivão para o rei.
Depois disso, começa a história oficial do país e acontecem todos os fatos que ao longo dos séculos foram dando causa a novos feriados religiosos e não religiosos, até entupir a agenda e obrigar alguns feriados a mudarem de dia para continuarem sendo feriados, sem prejuízo das vantagens dos feriados, porque outro feriado mais importante tomou o dia que era tradicionalmente seu.
Temos feriados para tudo e para todos, com base nos fatos e na falta de fatos, para não falar em santos e religiões de todos os tipos que comemoram seus dias com mais feriados nas agendas.
Como se não bastasse, o Congresso Nacional se dá ao luxo de ter um mês inteiro que o resto do país não tem para descansar de não fazer nada. Nesse cenário, por que não o 22 de abril?
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