A sensibilidade das árvores
[Crônica de 25 de maio de 1998]
É impressionante como as árvores são sensíveis ao tempo. Suas flores atrasam ou adiantam em função das chuvas e de suas quantidades. Seus galhos crescem e se cobrem de folhas por conta do sol e do calor que elas recebem. Suas raízes se tornam maiores e vão mais fundo nas épocas quentes.
Como se fossem mulheres melindrosas, as árvores se irritam com o vento, que deixa de ser brisa amena para passar rápido e frio. Ficam indignadas com a chuva que cai em forma de granizo, agradecem à garoa que molha suas raízes sem machucar suas folhas.
Como os seres humanos, as árvores também sabem ser generosas e emprestam seus galhos mais protegidos para os pássaros fazerem seus ninhos.
Abrem sua sombra para amenizar o calor. Se vestem de cores alegres para fazer a vida das pessoas mais belas e a dos beija-flores mais rica.
Mas as árvores parecem que também sentem e ficam tristes.
O que pode ser mais triste – e mais belo – do que uma árvore enorme, remanescente de uma floresta que já não existe, solitária na paisagem?
O que pode ser mais trágico do que seus galhos lá no alto, estendidos para os lados, sem encontrar os galhos das outras árvores que há muito foram cortadas?
O que pode, dentro da cidade, ser mais desesperado do que os galhos da paineira da pracinha perto da minha casa, nus, erguidos para cima, sem folhas, já nesta época do ano, quando o inverno ainda não começou?
Há poucos dias ela ainda estava coberta de flores. Não com a exuberância de sua prima da rua Alvarenga, mas bem carregada, fazendo inveja às quaresmeiras que a rodeiam.
Aí vieram o frio e o vento Sul, que, como bárbaros atacaram a paineira, deixando-a nua, completamente devassada, impotente frente ao tempo.