A prova não ensina
A tragédia do Rio Grande do Sul é a prova que faltava para os mais incrédulos se convencerem de que as mudanças climáticas são para valer. O que aconteceu lá, numa longa série de eventos que duram já faz três anos e que misturaram seca severa com inundações mais severas ainda, não pode ser negado, nem escondido debaixo do tapete. Aconteceu e está acontecendo, com a agravante de que deve acontecer de novo.
O Brasil sempre teve tragédias causadas pelas chuvas e pela falta de chuvas. Não tem nada de novo debaixo do sol. Elas fazem parte da nossa realidade, assim como a decadência do futebol e o enterro da Operação Lava Jato.
Só que ninguém quer fazer nada. Ou melhor, nossos homens públicos, em sua maioria, não querem fazer nada. Para eles está bom assim, com todo mundo levando o seu e o país que se dane. Vale para todos os Poderes, em todos os seus níveis. O problema é que temos um problema e ele vai se agravar e se espalhar pelo resto do país, com a sem cerimônia de quem sabe que é mais forte e que, ainda por cima, tem a inércia nacional para ajudar a causar mais danos.
É olhar o que acontece em São Paulo. Durante décadas, era só subir no Edifício Itália e ver o enorme paliteiro de concreto que fecha os horizontes. Agora, a vista lá de cima é só um pedaço do tamanho do estrago. Tem muita área sendo tomada por prédios enormes, que não dá para ver do alto do centro da cidade.
É uma verticalização alucinada, que tem como principal consequência aumentar a impermeabilização do solo. Quer dizer, chovendo, a água não tem como entrar na terra e escorre para as áreas mais baixas, criando rios e cachoeiras que levam o que tem pela frente. Até agora, a tragédia gaúcha é só mais uma tragédia, que será esquecida assim que a chuva parar.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.