O cinza paulistano
[Crônica de 21 de outubro de 2009]
Tem uma cor de dia que pode ser definida como cinza paulistano. É um tom de cinza único, só encontrável no céu desta cidade e que não se confunde com nenhum outro, por mais cinza e triste que o cinza seja.
O cinza paulistano vai além de ser simplesmente cinza. Ele exige uma névoa que é um misto de poluição e antecipação de garoa, com nuvens altas que tapam o sol e uma garoa intermitente, que às vezes se transforma numa chuva fraca.
Não é um desenho simples e muito menos fácil de conseguir. Por isso é típico da cidade de São Paulo e não se repete em nenhum outro lugar do planeta.
Quem sabe possa haver algo parecido em determinados dias de outono nas cidades de Hamburgo e Londres. Mas são semelhanças dessemelhantes e só a saudade de São Paulo permite alguma confusão.
São cinzas diferentes. Ainda que sendo tristes e mais ou menos depressivos. A composição dos cenários, as nuvens, a poluição, a transparência do ar e o ritmo da garoa, em conjunto, não dão o mesmo resultado.
Cada céu é único. Por isso não há como exportar o nosso para eles ou importar os deles para cá. Não passa. Não entra. Não é igual.
O cinza paulistano pega pesado, não só na tristeza da cor, mas, antes de tudo no frio fino que vem junto e que dói nos ossos, ainda que a cidade não sendo mais a terra da garoa.
Tudo muda. O clima de São Paulo mudou muito nos últimos anos. Seja pelo aquecimento global, seja pelas loucuras cometidas pelo ser humano a cidade não tem mais a garoa constante que foi sua marca registrada. Mas quando o cinza paulistano entra, o passado volta com ele.
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