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A praça vira estacionamento

[Crônica de 4 de julho de 2000]

O destino das praças de São Paulo é virar estacionamento. Quantas delas, começando pela Praça Roosevelt, perderam seu verde para abrigar em suas entranhas recobertas de concreto os carros que poluem a cidade?

A praça das Bandeiras, no centro velho, antes de virar estacionamento de ônibus, era estacionamento de automóveis. A praça em frente do estádio do Pacaembu, aos poucos foi mudando seu perfil, dividindo seus espaços entre a feira e os carros, primeiro durante o dia, depois durante a noite, e não só nos dias de jogo.

Até o Pátio do Colégio, que por sua idade e sua história, deveria ser preservado para preservar nossa história, durante o dia serve de estacionamento para os carros oficiais que servem os prédios em volta.

Não tem jeito, é sina de quem existe dentro de uma cidade que nasceu para crescer e crescer, sem peso, nem medida, para além de todos os horizontes.

Foi por isso que a primeira vez que prestei atenção não estranhei. Quem sabe a praça Vicente Rodrigues estivesse treinando para seguir o passo de suas primas mais famosas, abrindo seu espaço redondo, sombreado pela grande paineira plantada no centro, para as carroças e carrinhos dos moradores de rua que imitam os riquixás orientais, puxando-os pelas ruas, atulhados de velharias, catadas em todos os cantos e em cada lixo, para venderem por meia dúzia de reais.

Depois, no fim de semana seguinte, tomando minha água de coco na banca do seu Chico, olhei para a praça e vi que eles estavam lá de novo. Ou melhor, eu achei que tivessem voltado, porque, de verdade, nunca tinham saído.

Os moradores de rua se instalaram na praça Vicente Rodrigues para ficar. Transformaram-na em lar e em estacionamento para suas carrocinhas, que de noite, servem de casa.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.