Certos dias de inverno
[Crônica de 7 de agosto de 2007]
A letra de “Califórnia Dreaming” fala de um dia de inverno especial ao som de uma das músicas mais belas da segunda metade do século 20. Clássica entre os clássicos do rock, suas diferentes gravações levam a imaginar como seria este dia especial, e se ele é uma exclusividade da Califórnia, ou se pode acontecer em outros lugares do mundo.
E a lembrança voa, recordando outros dias de outros invernos aqui e em toda parte, ao longo de um pedaço de vida, bem viajada. Europa, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Cinquenta e tantos invernos!
“O rei me pediu pra casar-se com sua filha, de dote me dava Europa França e Bahia e eu disse que não queria”.
Não queria como não quero, porque o que eu quero é viver minha vida do jeito que eu quero e não do jeito do rei – de nenhum rei, porque com eles os dias de inverno serão outros, são deles, e não os que eu guardaria para poder escolher, e, em algum momento, me lembrar.
Ah, as manhãs frias, com geada no capim, dos julhos da minha infância. Eu descia da sede da fazenda pra tomar café da manhã na colônia, na casa do Nego, e comer o pão feito na hora, com manteiga quente, preparado pela D. Helena, sua mãe.
E as manhãs dos dias mais que gelados do inverno em Hamburgo, com um azul extraordinário servindo de contraponto para a neve caída de noite, ainda branca, cobrindo meu carro. Depois, ver a tarde chegar cedo, trazendo uma noite mais gelada ainda, antes das quatro da tarde.
Ou sentir o frio úmido da meia noite de um 24 de dezembro, na fila para assistir à missa do galo em “Notre Dame”. São lembranças boas de tempos bons. Mas será que são tão bons quanto ver o azul profundo e límpido do nosso céu normalmente poluído, numa tarde de inverno?
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