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Barulho

Cidade grande é barulhenta, mas tudo tem um limite, pelo menos no mundo civilizado. Nós somos civilizados? Se a resposta é sim, então tem alguma coisa errada. O barulho está extrapolando seus limites, entrando na casa dos outros, infernizando a vida dos vizinhos. Isso, para ficar apenas no ramo da construção. Construção e reforma, não faz muito diferença, uma é uma, outra é outra, mas as duas fazem barulho, muito barulho.

Tem gente que se queixa dos alto-falantes dos templos de periferia, do som das baladas em bairros da moda, do barulho infernal dos aviões chegando e partindo de Congonhas. São reclamações mais do que válidas e fazem todo o sentido. Ninguém é obrigado a aturar o barulho do próximo, ainda mais quando se está próximo.

Mas algumas obras levam o troféu. Conseguem ultrapassar todos os limites, não respeitam altura do som, nem horário, nem dia da semana. Sentam a pua sete dias por semana, 24 horas por dia. E sai da frente porque pode vir mais. Dependendo do estágio da obra, o barulho pode chegar a limites inacreditáveis e, como o dono da construtora não mora perto, o próximo que deixe de ser próximo.

Dizem que tem um serviço que mede o barulho e atende reclamações. Dizem, mas pelo jeito ele não resolve muito. A barulheira segue firme e forte, nos horários mais inconvenientes. Afinal, o assunto não é com o causador do barulho. Ele simplesmente recebe a reclamação e toca em frente, como se, em vez de uma reclamação, recebesse um elogio.

Não conheço ninguém que goste do pesadelo do barulho alto na sua orelha. Ou melhor, tirando os beneficiados por ele, não tem ninguém que goste. Quem leva vantagem acha que está tudo bem. O próximo que tenha um pouco de paciência, a mesma paciência que se espera dos motoristas que dão de cara com carros na contramão, interditando a rua.     

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.