Alguns ipês
Todos os ipês são bonitos, mas alguns ipês são mais bonitos que os outros. Nada que não aconteça regularmente na natureza. A beleza é um atributo que varia de pessoa para pessoa, de bicho para bicho, de planta para planta, de mineral para mineral.
Não adianta querer esconder o sol com a peneira, a beleza é parte concreta e integrante do mundo e ela abre portas em todos os lugares. Por que é assim? Não sei, a beleza permeia a vida, faz parte dela, da mais remota antiguidade aos dias de hoje.
Se na mitologia grega Afrodite era a personificação da beleza, Hefesto era o deus coxo e torto, mas era tão deus quanto ela. Mais que isso, era seu marido. Será que os opostos se atraem? Os gregos eram sábios.
A mesma regra vale para os ipês, todos os ipês são bonitos, mas alguns ipês são mais bonitos que os outros. São Paulo que o diga, tem árvores deslumbrantes espalhadas por todas as regiões. Alguns ipês-rosa estão se superando, atingindo quase a perfeição.
E os brancos, estes sabem que a florada é efêmera, então, nos poucos dias que ficam floridos dão mais que o máximo, se vestem de neve e são um show à parte. Mas mesmo entre eles, alguns são mais deslumbrantes do que os outros.
E a regra vale para os ipês amarelos. É bonito ver o ipezinho se esforçando para entregar sua meia dúzia de flores, mas o deslumbre de uma árvore erada, coberta com se manto amarelo, abre a perspectiva do milagre, do além do normal, do divino que faz parte da vida.
Cada árvore faz o que pode, assim como cada pessoa e cada animal, mas tanto faz o que se diga, tem sempre o que é mais bonito, o que brilha mais. Os ipês sabem disso, mas sabem que é uma regra que não depende deles, então não adianta discutir com a sorte, o jeito é tocar em frente.
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