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Alguns ipês

Todos os ipês são bonitos, mas alguns ipês são mais bonitos que os outros. Nada que não aconteça regularmente na natureza. A beleza é um atributo que varia de pessoa para pessoa, de bicho para bicho, de planta para planta, de mineral para mineral.

Não adianta querer esconder o sol com a peneira, a beleza é parte concreta e integrante do mundo e ela abre portas em todos os lugares. Por que é assim? Não sei, a beleza permeia a vida, faz parte dela, da mais remota antiguidade aos dias de hoje.

Se na mitologia grega Afrodite era a personificação da beleza, Hefesto era o deus coxo e torto, mas era tão deus quanto ela. Mais que isso, era seu marido. Será que os opostos se atraem? Os gregos eram sábios.

A mesma regra vale para os ipês, todos os ipês são bonitos, mas alguns ipês são mais bonitos que os outros. São Paulo que o diga, tem árvores deslumbrantes espalhadas por todas as regiões. Alguns ipês-rosa estão se superando, atingindo quase a perfeição.

E os brancos, estes sabem que a florada é efêmera, então, nos poucos dias que ficam floridos dão mais que o máximo, se vestem de neve e são um show à parte. Mas mesmo entre eles, alguns são mais deslumbrantes do que os outros.

E a regra vale para os ipês amarelos. É bonito ver o ipezinho se esforçando para entregar sua meia dúzia de flores, mas o deslumbre de uma árvore erada, coberta com se manto amarelo, abre a perspectiva do milagre, do além do normal, do divino que faz parte da vida.

Cada árvore faz o que pode, assim como cada pessoa e cada animal, mas tanto faz o que se diga, tem sempre o que é mais bonito, o que brilha mais. Os ipês sabem disso, mas sabem que é uma regra que não depende deles, então não adianta discutir com a sorte, o jeito é tocar em frente.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.