Nas pegadas de José

José é um morador de rua, ou pessoa em situação de vulnerabilidade a rua. José está na rua porque quer, se não quisesse, não estaria. José tem casa própria, filhos, família. Ele mora na rua porque escolheu morar na rua.

Antes, José era um homem típico das cidades brasileiras. Acordava cedo, tomava banho, fazia a barba e depois do café da manhã e do primeiro cigarro, saia, de terno e gravata, no seu fusca 1300, rumo a repartição onde era subchefe, da subseção de envelopamento de material crítico.

Material crítico pode significar muitas coisas, um dia José se encheu de pensar o que material crítico poderia significar. Disse que estava doente, voltou para casa, deixou um bilhete e foi embora, sem olhar para trás. Nunca mais voltou.

É verdade, os filhos o encontraram, mas ele explicou a decisão e os filhos depois de muita discussão, concordaram com a vontade do pai, que daí pra frente fez da rua sua morada.

José mora na rua porque quer, não é mais feliz, nem menos feliz, não sofre mais ou menos, escolheu viver assim, então vive assim, paga os preços e não reclama.

Antes, a cama de José ficava num quarto só dele, era larga e tinha lençóis limpos e engomados. Agora a cama de José é um pedaço de papelão estendido no chão, dentro de uma barraca que ele leva consigo para onde quer que ele vá.

José é feliz? O que é a felicidade na vida das pessoas? José não sabe se é feliz, também não se preocupa muito com o tema. Para ele felicidade é algo que professores e poetas discutem como se fosse a coisa mais importante do mundo, mas de verdade, é apenas a falta de resposta para os sentimentos mais profundos que descrevem, mas não justificam a vida dos homens.

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