Rogai por nós, amém
São Cosme e Damião, rogai por nós na hora do nosso assalto, amém. Eu sei que não é sua especialidade, mas nesses tempos em que bandido bom é bandido solto e cidadão bom é cidadão com medo, todos os santos e divindades servem, sejam de que religião forem incluídos Abraxas, Baal, Amon-Rá e os outros deuses desaparecidos, ao longo dos séculos, mas cuja força segue viva num fim de galáxia, onde os titãs comemoram a vitória do caos.
Sei que não deveria ser assim, que todos querem a bandeira do combate a violência, mas está cada dia mais complicado e acreditar que algum dos que prometem irá cumprir suas promessas é acreditar no bom ladrão, que roubava dos ricos para dar aos pobres.
Diz a Bíblia que o ladrão bom ao lado do Cristo entrou no céu antes do final dia. Pode ser, mas para os ladrões não tão bons que assaltam pelo Brasil a fora, entrar na prisão pode ser tão bom quanto entrar no céu, depende do indigitado ser ou não ser da facção que manda no pedaço.
Sair de casa ficou uma aventura muito perigosa. Pode dar certo, pode não dar. Pode acabar só com um susto e a perda do celular, pode acabar a bala, com um tiro no pescoço. A sorte não escolhe esse ou aquele, quem estiver passando paga a conta, com um tiro no peito ou facada na barriga, é questão de cara ou coroa.
Se não tiver jeito melhor de ser extorquido, tudo bem é só fazer uma fezinha numa Bet qualquer. Todas prometem o paraíso, mas o fato é que mais de três bilhões de reais entram mensalmente nos caixas delas, sem que ninguém preste conta de quanto foi pago em prêmios.
Pode ser que sim, pode ser que não. Tanto faz, o que não tem como dizer que está bom é a violência nacional. Quer dizer, não está bom para o cidadão de bem. Para o bandido, o paraíso é aqui.
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