Trinta anos atrás
[Crônica de 15 de julho de 1998]
Trinta anos atrás era inverno e de noite fazia muito frio na nossa fazenda de Louveira. Estávamos quase todos os primos lá, sob a guarda de minha mãe e de minha tia Vera, porque um tio avô estava muito mal e o melhor lugar para se deixar as crianças era na fazenda da família.
Além dos primos, tínhamos também convidados alguns amigos, de forma que a fazenda estava lotada de gente.
Naquela época a televisão ainda estava longe da qualidade imagem e som que tem hoje. Ainda era em branco e preto, e a uma distância de mais ou menos 90 KM da torre, pegar pegava, mas mal, mal, como se estivesse chovendo o tempo inteiro, até quando os filmes se passavam no deserto.
Em julho de 1969 eu tinha 16 anos. Faria 17 em agosto, o que me rendeu não poder tirar carta de motorista, porque a lei dos 17 fora revogada um pouco antes.
Mesmo assim, dois amigos que estavam na fazenda tinham tido a sorte de nascer em tempo e por isso tinham carta e carro… o que nos permitia algumas incursões noturnas, várias das quais não precisam ser tratadas aqui, apesar de terem sido muito boas.
Eu poderia contar muitas coisas que aconteceram naquelas férias, mas, o grande momento foi sem dúvida a chegada do homem na lua.
Até hoje, me lembro do dia, ou melhor da noite, com todos nós embolados em volta da televisão, que pegava mal, emocionados vendo os astronautas se aproximarem do satélite e depois descerem na superfície da lua.
E também me lembro da pergunta da Nona, que era uma velha senhora italiana que morava na fazenda desde que viera da Itália, para o meu tio Paulo:
– “Por que eles não escolheram para descer na lua uma noite de lua cheia? Era mais fácil de acertar o foguete.”
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