Uma empresa afinada com seu tempo
[Crônica de 18 de fevereiro de 1999]
– Obrigado por ter chamado a cia. telefônica. Não desligue. Sua chamada é muito importante para nós. Mais um momento e o Sr. vai ganhar sua senha. E, sua senha é…00.00.00/0.
– Como, o Senhor não quer senha? Não há problema. Sua nova senha, para cliente que não quer senha é …00.00.00/0
– É o número da senha anterior? Não tem problema, nós estamos aqui para servir nossos clientes. O senhor aguarde um minuto que estamos lhe providenciando uma nova senha….
– O senhor não quer senha nenhuma? Voltamos a insistir, o Senhor tem sempre razão, assim, vamos lhe dar uma senha para o Senhor explicar que o Senhor não quer senha nenhuma.
– O número da sua nova senha é 00.00.00/0!
– Dei-lhe de novo o número que já lhe dei antes? É impossível, nossos computadores, com uma enorme capacidade de “random” não cometeriam um erro desses.
– Mas, como os clientes da cia. telefônica são sempre bem atendidos, lhe daremos uma nova senha. E sua nova senha é 00.00.00/0.
– O senhor insiste em dizer que a senha é sempre a mesma porque o senhor não percebe as nuances envolvidas no procedimento de liberação de senha.
– As senhas parecem as mesmas, mas não são. É por isso que a sua nova senha é 00.00.00/0.
– Se o Senhor prestar atenção, vai verificar que 00.00.00/0 é diferente de 00.00.00/0. E se o senhor parar de falar e entrar na fila, vai verificar que mais cedo ou mais tarde o senhor será atendido, e pela senha 00.00.00/0.
– Apenas cumprindo nossa obrigação de bem informar, porque o senhor já falou mais do que seu telefone suporta e sua ligação vai cair, nossas senhas estão programadas para o bug do milênio. Se o seu telefone vai falar antes ou depois dele o problema é seu.
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