Promessas mais que reais
[Crônica de 21 de setembro de 2004]
Quem vê o sol começar a brilhar no céu e sente na pele o seu calor aumentando, pensa rapidamente nas delícias de um banho de mar e de um dia sem fazer nada, largado nas areias de alguma praia.
É um sonho muito próximo da realidade. Ou melhor, é a realidade revivida na memória transformando uma ideia gostosa num sonho possível. E o que é melhor que um sonho possível?
As estradas estão aí, abertas, com pedágios escorchantes e velocidades patéticas. Mas é pegar o caro e descer a serra, para, em princípio, em pouco mais de uma hora transformar o sonho na melhor das realidades, sentindo a areia correr debaixo dos pés e a água salgada molhar o corpo ainda branco do inverno, mas com chance de acabar vermelho como um camarão.
Vamos lá. Não dá para não entrar nessa, nem deixar o sábado passar em branco, com tudo de bom que descer a serra tem, para o corpo e o espírito.
O problema é que nem sempre o sonho, mesmo sendo possível, se transforma na realidade ideal. No momento mágico em que se vive a redescoberta do corpo aquecido pelos raios amigos do sol de primavera.
De repente o paraíso fica com cara de inferno. A estrada para. Os carros se arrastam. O calor come solto, fervendo os motores mais velhos. O mau humor toma conta de tudo, reacendendo a vontade de matar que é a rotina dos outros 5 dias da semana massacrados pelo trânsito caótico da cidade grande.
A verdade surge escorrendo nas gotas de suor de calor e ódio: É pouca estrada para muito carro. Os deuses estão cobrando seu preço.
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