Viver é muito complicado
Quem acha que viver é fácil está completamente enganado ou vive no mundo do Mágico de Oz. Viver é muito complicado e começa numa correria, um atrás do outro, todos querendo comer o próximo.
Diz um ditado do cais da Bahia que o peixe só é menor para o peixe maior. A regra vale para todas as espécies. Gaviões comem pardais e sabiás, cobras comem ratos, lagartixas devoram mosquitos, leões devoram quase tudo, incluídos os filhotes dos outros machos. E, no topo da cadeia, o ser humano, imbatível, destrói e mata o que passa pela frente, de beija-flor a outro ser humano.
Não tem como, a natureza não nos fez compreensivos e fáceis de arranjar amigos. Não é por aí. Ao contrário, a luta pela sobrevivência é dura e injusta e ganha quem pode mais, tanto faz como. As regras só existem para serem descumpridas.
Quem acha que acha acaba sendo achado, como o cidadão da piada, que achava e está desaparecido faz muito tempo. A vida não cai do céu. Tirando os judeus, que ganharam o maná que caía enquanto atravessavam o deserto, os outros têm que fazer força, arregaçar as mangas e dar duro no batente, atrás do pão nosso de cada dia, que nem sempre chega farto e fresco.
Jesus entrou em Jerusalém montado num burrinho. Os outros foram a pé. Nosso presidente atualizou a história do burrinho e agora quer entrar nos aeroportos de avião novo. Quem vai pagar somos nós. Quer dizer, se alguém consegue algo de graça é porque tem alguém que pagou.
Não tem almoço, nem jantar que não tenha seu preço. Não precisa ser em dinheiro, que aliás é o pagamento mais barato. O que se resolve com dinheiro é fácil, o duro é dar conta do resto. Entre secos e molhados, viver é muito perigoso. Às vezes só dá para seguir de costas para o muro.
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