100 anos de D.Tereza
Se fosse viva, minha mãe teria completado cem anos no dia 21 de novembro. Está cada vez mais fácil chegar no século. O problema é chegar bem, aí já é mais difícil. Manter a dignidade é direito de todo cidadão, tanto faz raça, cor, religião ou gênero. Morrer com dignidade também.
Minha mãe teria todas as condições de chegar aos cem anos. Sua família é longeva, o avô morreu com 97, a avó com 94, a mãe com 96 e uma tia com 103, e só morreu porque perdeu o interesse pela vida depois que seu filho faleceu aos 80 e muitos.
Minha mãe faleceu aos 90 anos, nove anos depois de meu pai. Quando eu digo nove anos depois de meu pai, é exatamente isso. Ela morreu no mesmo dia que ele, duas horas antes. Ele faleceu as 6 horas da manhã e ela um pouco depois das 4.
Minha mãe foi uma mulher especial. Com grandes qualidades e alguns defeitos, foi uma mãe complexa para os três filhos, enquanto eram crianças e adolescentes e depois que crescemos também.
Sempre foi minha companheira. Durante vários anos, ela e eu almoçávamos juntos praticamente durante todos os dias de semana e também esperávamos meu pai nos finais de tarde, volta e meia com um salmão defumado ou um patê que eu comprava no supermercado perto de casa, onde eu ia dirigindo seu fusca, mesmo não tendo carteira de habilitação.
Ela não era uma mulher expansiva. Tímida, era inteligente, culta e charmosa e sabia usar essas qualidades de acordo com a ocasião. Ela sempre foi amiga dos meus amigos e achava ótimo frequentarem nossa casa ou eu e minhas irmãs os levarmos para a fazenda.
Dona Tereza, cem anos seria muito tempo pra você sem meu pai. Você viveu 90, entre secos e molhados, bem. Que a eternidade te seja leve.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.