A vida pega

De repente, a vida pega. Sem motivo, sem razão, sem culpa, sem julgamento, a vida pega. Pega num escorregão no banheiro, num tropeço num banquinho, numa calçada esburacada ou de outra forma ainda mais insólita, mas capaz de causar danos sérios, até matar, se a pessoa tiver a falta de sorte de bater a cabeça na guia.

Mas a vida pega de outras maneiras, numa doença silenciosa, num AVC, num infarto do coração, para não falar na longa lista de endemias, epidemias e doenças de todos os tipos, conhecidas ou por conhecer. Por exemplo, estão aumentando os casos de HIV entre as pessoas mais velhas. Com o fim do risco da gravidez, elas fazem sexo sem proteção e o resultado inesperado está aí, nas estatísticas médicas.

A vida pega num negócio malfeito, na loteria que não deu, na esperança desfeita, no fim do namoro com o primeiro amor do jovem chegando no mundo. 

A vida pega no tombo de bicicleta, nas notas baixas na escola, em não passar no vestibular. Pega no time de futebol que poderia ganhar, mas perde o último jogo. No milagre que não acontece.  

Pega no tiro na pessoa que não tem nada com isso, mas está no lugar errado, na hora errada, quando polícia e bandidos trocam tiros no meio da cidade.

Pega na morte do pet de estimação, na falta do amigo que naquela hora deveria estar, mas está longe, viajando ao redor do mundo. Pega na falta de energia elétrica depois da tempestade. Na enchente que invade sua casa. No acidente de carro.

A vida pega. Não tem o que fazer, a vida pega. A maior parte das vezes pega leve, mas tem horas em que o tranco é forte e a dor é a única recompensa, no corpo ou alma.