Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Os pingos no fio

[Crônica de 11 de setembro de 2009]

A tarde caia. Chovia e estava frio. O escuro do lado de fora anunciava mais frio para noite. Eu estava sentado na frente do meu computador, como fico a maior parte do dia, pensando no tema para uma nova crônica.

Só quem escreve um texto diariamente sabe como é complicado arrumar assunto, e mais que isso, depois de arrumado, escrever sobre ele. Nem sempre o viés sai como queremos. A ideia inicial é uma e o que sai do computador segue exatamente na direção oposta. Sobe o morro em vez de descer.

O dia tinha sido puxado e ainda faltava escrever uma crônica para ir para casa de consciência tranquila. E eu estava escrevendo, sem maiores problemas, sobre tema recorrente: os buracos das ruas da cidade. Foi aí que levantei os olhos e olhei pela janela. Estendidas do outro lado vidro, centenas de luzinhas de Natal brilhavam iluminando a noite que entrava, quebrando um pouco do cinza escuro e do frio.

Confesso que no começo não entendi o que estava acontecendo. Não era época de Natal ou outra que justificasse luzinhas brilhando, penduradas na casa do outro lado da rua.  Aquelas luzes tinham que ser decoração da casa em frente. De que outra forma elas poderiam estar brilhando no começo da noite?

Mas a casa em frente está vazia, para alugar. Então, que luzes seriam aquelas que enfeitavam a noite? Me levantei e fui até a janela. Abri a persiana e dei com o mistério: As luzes eram os pingos da chuva pendurados nos fios da rua, refletindo a luz da iluminação pública. Mas a sensação que davam eram que eram luzes. E quem sabe fossem – As lanternas dos anjos iluminado a poesia.
___

Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.