As ruas vazias

[Crônica de 9 de janeiro de 2006]

É impressionante como as férias mudam a cara de São Paulo. Quem, no resto do ano, anda de carro pelas ruas congestionadas, não acreditaria que é possível tanta paz, vendo a tragédia anunciada do tráfego infernal auxiliada pelos apitos destrambelhados dos marronzinhos ameaçando encolher, até quando a chuva que cai não é uma tempestade de verão.

As ruas de São Paulo nas férias de janeiro, com rodízio suspenso e tudo, ficam com cara de ruas de cidade do interior, com tempo para bater papo no largo da Matriz, sem precisar estacionar direito, parando em fila dupla e chamando os amigos com um assobio mais forte. 

Não com cara de grande cidade do mundo desenvolvido porque quem conhece as grandes cidades de qualquer dos mundos, sabe que cidade grande e trânsito civilizado são duas coisas tão incompatíveis quanto céu limpo e chaminé de fábrica soltando fuligem, ou água de rio e esgoto em natura.

Não dá, por isso não tem. Mas no interior de qualquer país ainda é possível encontrar cidades calmas, onde a vida passa a cavalo, trotando mansa, montada num arreio macio, com pelego e freio leve para não machucar a boca do animal.

São Paulo em janeiro é a possibilidade de todas as possibilidades feita real. O sonho materializado na qualidade de vida que é contraditória com o ritmo da cidade, no resto do ano. A paz das contas pagas e depois dos 9 fora, o resultado ainda ser positivo.

São Paulo em janeiro é muito mais que a sensação gostosa do chope gelado descendo devagar pela garganta com calor. É a vida redescobrindo a qualidade de vida e achando bom o que encontrou.
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