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[Crônica de 27 de julho de 1999]
Missa de sétimo dia, com o passar dos anos, vai-se transformando quase que numa sala de estar, onde a gente reencontra os amigos de muito tempo atrás, em pé, no canto mais próximo da porta de cumprimentos, esperando o padre acabar a missa, para falar com o amigo ou parente, parente do morto e depois retomar o ritmo dos vivos.
Foi numa dessas, que, conversando com um amigo, eu contei a história do juiz ide Uberaba que mandou citar um morto para responder aos termos do pedido de sua concubina, nos autos do seu inventário. E foi com surpresa que ele me responde com outra história mais fantástica ainda, só que acontecida com ele.
Não faz muitos anos, morreu seu tio, o último irmão vivo de seu pai, com a idade avançada de 93 anos. Por conta disso, meu amigo foi, de noite, numa noite fria, para baixo do viaduto que cruza a 23 de maio, onde funciona o serviço funerário de São Paulo.
Lá, depois de enfrentar uma fila, que, como as boas filas brasileiras demorava para andar, acabou sendo atendido por um funcionário que mal levantou os olhos, continuando dobrado, olhando para o formulário novo, que colocou sobre a mesa, bem na sua frente.
Bem-educado meu amigo começou:
– Boa noite, eu queria tomar as providências para o registro da morte do meu tio…
– Pois não, como era o nome do falecido?
Meu amigo disse o nome do seu tio. – E a data de nascimento? Organizado, meu amigo entregou uma cópia da certidão de nascimento do tio.
– Era casado? Meu amigo respondeu: – Viúvo. – Deixa filhos? – Não o morto não tinha filhos.
– Serviu o exército? Meu amigo achou que não tinha entendido. – Como?
– Certidão do serviço militar…. – Meu senhor, meu tio tinha 93 anos de idade, acho que não tinha nenhuma pendência com as forças armadas…
– Meu senhor, a questão é outra: o senhor tem ou não tem a certidão do serviço militar do seu tio?
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