A vez do Bom Retiro
[Crônica de 24 de junho de 2005]
Faz pouco tempo eu falei da recuperação da Luz. Do projeto que tem tudo para, na continuação do que foi feito depois da reinauguração da Pinacoteca, melhorar ainda mais o bairro, dando destaque para prédios e praças que são parte importante do acervo arquitetônico de São Paulo.
Agora é a vez de falar do Bom Retiro. O Bom Retiro é do lado da Luz, corre entre ela e o rio Tietê, acompanhando mais ou menos a planta da cidade, respeitando as formas sinuosas com que o rio se espraia Marginal à fora cortando São Paulo como uma enorme adaga indiana, sinuosa, feita de propósito para causar dano na barriga do desafeto.
O Bom Retiro foi durante anos o bairro dos negociantes judeus. A imensa maioria das lojas era deles e vendia roupas e confecções em geral.
Quando eu era menino, fui muito com minha mãe na rua José Paulino – a artéria principal do bairro – para comprar as roupas que usaria nos meses de férias na fazenda da família. Entre elas, as que mais me marcaram foram as campeiras, que eram jaquetas de lã xadreza, com o desenho parecido com os das mantas Parayba.
Depois o bairro começou a ver a chegada dos coreanos, que como não quer nada, foram entrando e pondo suas lojas do lado das lojas dos judeus, inclusive na rua José Paulino.
Desde a primeira época, o Bom Retiro nunca primou pela beleza, nem pelo cuidado com as ruas e com as lojas, que se sucedem, uma colada na outra, criando uma enorme poluição visual, pelo acúmulo de placas e anúncios em espaços sempre menores que o necessário.
Pois parece que tudo isso vai mudar e o Bom Retiro ganhará uma cara nova, única, chique e que será a marca registrada do bairro. Desde já ela é bem-vinda. Quem mora em São Paulo agradece.
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