Estrela de luz forte
[Crônica de 17 de maio de 1999]
No infinito céu da poesia e dos poetas, Gerardo Mello Mourão é muito mais do que uma simples estrela, é uma galáxia, com cada um de seus mistérios, com suas constelações e seus sistemas solares; e seus números de identificação, que falam de vidas que vivem outras vidas paralelas às nossas.
Sua poesia ultrapassa o encontro das paralelas no fim do horizonte, vai mais longe do que os anões que buscam potes de ouro do outro lado do arco íris. Entra como uma espada no mais fundo da alma. Fura a ferida e arranca o sangue limpo que purifica a carne cortada pelo ferro.
Gerardo Mello Mourão fere com a violência dos furacões e afaga com a ternura das brisas marinhas. Quem sabe por ser alquimista ou antigo deus do mar exilado de seus domínios, sua poesia flui, líquida e densa, como o pensamento.
Como poeta ele traduz as ideias de Deus e as faz acessíveis a nós, simples humanos, que nos deslumbramos com o ritmo seguro de seus versos e atingimos as portas do paraíso no final de cada poema seu.
É essa simbiose entre o humano e o divino que dá ao poeta a sensibilidade para entender as carências da alma e permiti-lhe preenchê-la com o som compassado das palavras e seus múltiplos significados.
Agora mesmo, Gerardo Mello Mourão acaba de ganhar mais um diploma, um reconhecimento. Não que os atestados façam dele um grande poeta. Ao contrário, é ele, ou melhor, a qualidade superior de sua poesia que dá credibilidade aos prêmios que ele recebe.
Mas, num país como o Brasil, onde a mediocridade tem um acordo quase indestrutível com a tolice e a falta de talento, um homem como ele ganhar o prêmio Jabuti é um lampejo de esperança no nosso céu escuro. Uma luz que surge no horizonte, prometendo um futuro melhor, ou pelo menos mais inteligente.
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