O frio fora de hora
[Crônica de 13 de setembro de 2002]
De repente, na semana passada, o frio resolveu mostrar que existe e deu as caras, assustando todo mundo, com sua chegada dura, fora de hora.
Frio é bom, mas demais estraga, ou cansa, ou arrepia. Depois de um inverno completamente sem sentido, onde até as azaleias perderam o rumo e o momento de florirem juntas, por causa do calor absurdo para a época do ano, no começo de setembro, quer dizer, quase no começo da primavera, a natureza decide nos pregar uma peça destas, fazendo até nevar no Rio Grande do Sul.
É verdade que perto das enchentes que varreram a Europa, nós estamos com sorte. Alguns dias de frio fazem bem pra alma e castigam os pernilongos, quem sabe fazendo aquilo que quem que é pago para fazer não consegue, que é matá-los, em nome do bem-estar e da saúde da população.
Por outro lado, é gozado ver as pessoas todas encolhidas, cheias de casacos, para fugir do frio quando já seria época de ir pra praia, relaxar do dia a dia da cidade grande, enfrentando filas intermináveis em nome de um relax no mínimo suspeito.
Eu gosto de praia no inverno, mas acho que sou uma exceção. A maioria das pessoas pensa praia com sol, calor e dias lindos, para ficar tostando e brincando de sardinha em lata, apertados pela multidão quase tão densa quanto os cardumes de tainha que nesta época do ano buscam a foz dos rios para desovarem.
Quem sabe seja por eu ter morado na Alemanha e conhecido as praias do mar Báltico e do mar do Norte no auge do verão deles, que é pouco mais do que um dia frio por aqui.
Não sei, mas o ar frio à beira mar é gostoso de respirar e sentir, passando pela cara, entrando nos pulmões. E gostoso em São Paulo, também, mesmo tendo chegado fora de hora.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.