Os periquitos
[Crônica de 24 de agosto de 2001]
Se São Paulo não é uma cidade muito arborizada, impossível de ser comparada com as grandes cidades europeias, ela tem suas manchas de verdes, mesmo onde o cinza é a marca preponderante, e se estende quase contínuo por quilômetros e quilômetros, em direção ao leste, para além das divisas do município, invadindo os chãos vizinhos, sem distinção ou preconceito.
Mas, se essa situação é a regra na zona leste, ela muda bastante nas zonas sul e oeste, para não falar na zona norte, que tem ao fundo a serra deslumbrante ainda coberta de mato.
É verdade que tem gente no governo e fora dele querendo diminuir estas áreas, mas isso é outra história e não cabe aqui, numa crônica sobre passarinhos verdes.
Quem prestar atenção nas árvores da cidade, vai descobrir que existe um número imenso de pássaros de todos os tipos e cores que vivem nelas.
É comum vê-los voando de galho em galho, em bandos os mais variados, nos lugares mais inusitados possíveis. São aves que descobriram que a vida na cidade é muito mais fácil do que no mato, ou em contato com a natureza. Lá, a luta pelo pão de cada dia é dura, enquanto aqui, até os gaviões já se convenceram, o lixo gerado pelo homem é rico, gostoso e fácil de ser encontrado.
Entre elas, uma espécie que mantém a dignidade é o periquito verde, que voa em bandos enormes, numa algazarra alegre, atrás de seus coquinhos prediletos, pendurados nas palmeiras da cidade.
Cada vez mais fica mais comum encontrá-los. Voando ou comendo nas árvores e até mesmo na rua, os periquitos se mudaram de vez, porque descobriram que é muito mais fácil morar na cidade do que no mato. Aqui as coisas quase caem no bico, por isso vemos sempre mais periquitos enfeitando a cidade com o voo verde e alegre de quem está de bem com a vida e não tem inimigos para ameaçá-lo.
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