A Brasília verde
[Crônica de 14 de novembro de 2000]
A vida é uma sucessão de imprevistos. A gente simplesmente faz uma coisa e acontece outra, completamente diferente. Ou então a gente não faz nada e acontece tudo que deveria ter acontecido se tivéssemos feito o que esperavam de nós. Em outras palavras, a sorte pesa e muito.
E a beleza também. Por mais que digam que não, não tem jeito, uma pessoa bonita é sempre mais bem atendida do que uma pessoa feia, e isso leva o tema de volta para a sorte, porque ninguém nasce feio porque quer. Nascer bonito ou feio é questão de sorte, como nascer rico ou pobre, ou inteligente ou superdotado.
Diz um meu cunhado que Deus não coloca cavalo arreado duas vezes na frente da mesma pessoa. E que é por isso que devemos pegar todas a chances e brigar por elas. Ele está certo, quem briga e faz força, tendo sorte, acaba tendo mais sorte, porque dá uma ajudinha pra ela.
E foi por conta de um desses imponderáveis que acabei me vendo numa situação fantástica, para não dizer surrealista. De repente eu tinha diante de mim, como cavalo arreado, uma Brasília verde, 1982, com roda esfiha e insulfilm no vidro.
Em 1982 seria o máximo, mas em 2000 ficou meio complicado, porque ter uma Brasília já não era o máximo. A Brasília poderia ser minha se eu aceitasse recebê-la como pagamento de honorários em uma ação mais surrealista ainda.
E eu quase aceitei, imaginando como seria sair na noite paulistana de Brasília verde, com roda esfiha e insulfilm no vidro, e parar na porta de um dos restaurantes da moda e entregar a máquina para o manobrista estacionar.
Só que aí entrou areia no negócio. Não porque a Brasília esteja meio gasta e só pega no tranco, isso até que não seria grave. O problema é que ela está guardada na Praia Grande e o advogado da outra parte me disse que achava que ela não subia a serra do mar.
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