A igreja da Ordem Terceira
[Crônica de 25 de agosto de 1999]
O centro velho de São Paulo, justamente por ser o centro velho, guarda tesouros deslumbrantes, que contam a história da cidade em cada uma de suas pedras, em cada racha e em cada mancha.
Entre eles, as igrejas do largo de São Francisco, ao lado da Faculdade de Direito, são com certeza dos cenários mais bonitos, ainda que cercadas de decadência, miséria e sujeira.
A mais importante das duas é, evidentemente, a igreja de São Francisco. Maior e mais rica, ela é a igreja da ordem, chegada à São Paulo na primeira metade do século 17.
Mas se a igreja de São Francisco é a maior, sua irmã menor, a igreja da Ordem Terceira é mais acolhedora, e para mim, mais bonita. Ela tem a cara de São Paulo da época colonial, quando as portas das casas da pequena vila ficavam abertas e ninguém roubava nada.
Igreja típica do período colonial paulista, a igreja da Ordem Terceira, no largo de São Francisco, tem na singeleza de seu barroco simples e pobre, se comparado com as igrejas mineiras e baianas, a sua força e o seu aconchego.
Ela é uma igreja boa e quente que dá um traço humano às relações divinas. No calor das cores do seu teto, pintado como era no século 18, e no jeito amigo da imagem de Santo Antonio do Categeró, no altar logo a direita de quem entra, a igreja da Ordem Terceira recebe os que a procuram não com grandiosidade, que também é um traço de Deus, mas com a humildade dos santos franciscanos, para quem um abraço e um pedaço de pão valem mais do que todo ouro e toda a pompa dos reis e dos papas.
A igreja da Ordem Terceira faz mais fácil falar com Deus. Seja sentado em seus bancos retos como os antigos paulistas, seja acendendo uma vela, na salinha logo à entrada, seu ar calmo e amigo abre uma estrada para a alma e aproxima o homem do eterno.
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