A vez dos sabiás
Nada é mais metódico e ao mesmo tempo mais belo do que os movimentos da natureza. Cada passo segue o outro, ano após ano, num movimento de eterna rotina, mas sempre diverso, sempre de outro jeito, ainda que parecendo o mesmo.
Por exemplo, os sabiás, todo começo de setembro começam piar de madrugada, no duro trabalho de conseguirem uma fêmea, acasalarem e perpetuarem a espécie.
Eu não sou especialista em canto de sabiá, e menos ainda na evolução da espécie. Tudo que sei, por experiência própria, é que os sabiás laranjeira do Butantã, anualmente, em setembro, começam uma piação alucinada, ainda de madrugada, que me faz companhia nas noites que perco o sono e fico brincando de croquete, rolando na cama de um lado para o outro.
Quem já viu sabiá cantar sabe que o pio da madrugada está longe do que um sabiá é capaz de fazer. A diferença entre pio e canto é grande e, às vezes, eu tenho a impressão de que quem pia cedinho são os filhotões, se preparando para a concorrência da vida e pela dura luta por uma fêmea.
Este ano os sabiás começaram na época de sempre, só que as madrugadas têm estado geladas, o que me leva a um ponto importante do meu estudo sobre o canto dos sabiás no mês de setembro: será que não é todo passarinho que sente frio?
Porque, se está frio dentro do quarto, como será que estará num galho de árvore, ainda que protegido, na madrugada clareando?
É bom ouvir os sabiás fazendo sua algazarra, mas com certeza é melhor ficar na cama quentinha.
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