De quem é o texto?
O texto é do autor até o momento em que é publicado. Aí deixa de ser. Ele passa a ser de todos que o lerem, todos que se interessarem ou discutirem o tema e suas premissas.
O autor escreve o texto, pensa o tema, aprofunda, se informa, analisa, estuda a matéria e a adapta ao seu modo de ver, às suas posições, não por má fé ou para manipular o leitor, mas porque é assim que as coisas são. Por mais neutro que o texto seja, ele tem uma forte dose da personalidade do autor e isso o faz simétrico às posições de quem o escreve. O que não quer dizer que seja lido assim e que o que o que o autor pretende transmitir seja entendido como o que o autor pretende transmitir.
Por mais afinado com o autor que o leitor seja, ele terá sua leitura e sua leitura será sempre diferente da leitura do autor e isso fará com que o texto, ainda que com pontos de vista convergentes, não seja o mesmo para quem escreve e quem lê. O problema não está no “verde é verde e azul é azul”. O verde será sempre verde para quem lê e o azul será sempre azul para quem escreve. Onde a coisa complica, ou pelo menos muda o foco, é a forma como o verde é entendido dentro da frase ou o azul é colocado dentro do texto.
“Antes do amanhecer, a cidade tinha sombras escuras, que encobriam as pessoas” pode ser entendido diferente quando se lê “a cidade tinha sombras escuras, que, antes do amanhecer, encobriam as pessoas”.
Esse é só um exemplo, mas pode acontecer também da leitura ser feita da forma escrita pelo autor e entendida da forma pretendida pelo autor, só que como quem lê é outra pessoa o significado geral não é o mesmo.
Quem pretende ser dono do seu texto depois de publicado não sabe ou não entende a magia existente entre o momento em que o texto é publicado e o momento em que é lido. É ela que faz a sua beleza!
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.