A nobre arte de engolir sapos
Desde a expulsão de Adão e Eva do paraíso que a vida do ser humano sobre a terra não tem sido fácil. Vale de lágrima, no dizer dos católicos, inferno vivo na interpretação de alguém mais pessimista, o fato é que depois que nós perdemos o jardim do éden, esta dádiva maravilhosa chamada vida passou a ser tida com algo muito duro e muito difícil.
E é! Não há como dizer que a vida não é dura!
E para vivê-la, seja por bem, seja por mal, porque existem dois granes grupos, onde se incorporam todas as formas das duas maneiras, só há um jeito: engolindo sapos.
Engolir sapos pode ser uma arte ou pode ser um tormento. Na medida que todos nós vamos engoli-los – e às dezenas – é mais sensato transformar o suplício numa arte, do que mantê-lo como suplício.
De pequenas ranzinhas, que acompanhadas de um bom molho descem fácil e sem arranhar, até enormes sapos bois, com o corpo cheio de verrugas, que descem arranhando e se prendendo pela garganta, não tem quem já não tenha provado do petisco.
E para os que acham que o mais difícil é engoli-los, eu gostaria de lembrar da digestão. Do momento em que o bicho cai no estômago, muitas vezes ainda vivo e esperneando, transformando a barriga numa caixa d’água fervendo, que queima a alma e faz sair fumaça pelas orelhas.
Engolir sapos é uma das artes mais antigas desenvolvidas pelo homem. Quem imagina que Abraão não os engoliu nunca leu a bíblia. E os engoliram Salomão, Davi, Alexandre o Grande, Ciro e Júlio César.
Como os engoliram messalina, Cleópatra, Lucrécia Borges, Catarina a Grande, a rainha Vitória e todas as outras mulheres que ao longo do tempo mostraram sua superioridade em relação aos homens.
Não há quem não tenha engolido sapos, nem quem, enquanto estiver vivo, não torne a engoli-los.
É por isso que é melhor engoli-los com arte do que como um martírio: as duas formas doem, mas a primeira preserva um resto de dignidade.
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