Tua presença
Tua presença tem algo de mágico, algo de incomensuravelmente antigo, algo bom como a terra no começo dos tempos, como a vida antes do pecado original.
Ela fala de sonhos quando os sonhos eram possíveis, e as aventuras rotina.
Tua presença me remete para outro tempo fora do tempo, onde a realidade é outra realidade e ser herói é quase fácil.
Ela sabe ao cheiro da terra molhada e da grama esmagada nos pastos da fazenda, quando, eu menino, saíamos de manhã cedo para trazer os cavalos para a cocheira.
Mais ainda, ela sabe ao cheiro e ao calor dos cavalos suados, ou antes disto, ao cheiro de pão quente saindo na fumaça das chaminés das casas da colônia, quando os boias frias ainda eram uma invenção do futuro e as fazendas de café davam casa para os seus empregados.
Tua presença fala da proximidade da própria alma, de algo escondido no mais fundo de mim, como um segredo tão entranhado, tão preso, que eu mesmo sou o segredo.
Tua presença fala de venturas…de encontros, de chegadas e partidas e das estações do mundo, de onde a vida sai permanentemente para rotas e caminhos que ninguém conhece.
Tua presença fala do afago da mãe na criança doente. Das noites passadas em claro, ao pé da cama com febre. Fala da cura e da alegria por conta dela.
Tua presença fala das promessas não cumpridas e das novas promessas no lugar das promessas quebradas.
Fala do riso do reencontro, de distâncias e de viagens.
Fala da água das cachoeiras e de ilhas que eram quase desertas quando nós desembarcávamos nelas e depois voltávamos para casa e fazíamos filé de tainha.
Tua presença é o teu riso, tuas esperanças permanentemente renovadas, mas, acima de tudo, tua presença é o teu enorme carinho… O teu delicioso carinho.
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