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Maio de 1968

Em maio de 1968 eu tinha quinze anos de idade. É impressionante como aos 15 anos nos consideramos crescidos e capazes de afrontar todos os perigos do mundo.

Aliás, é impressionante como ao longo de boa parte da vida nos consideramos aptos a enfrentar todos os desafios, para pouco tempo depois, descobrirmos que mal e mal nos aguentávamos nas pernas e que se não entramos pelo cano – como tantos outros que se deram mal – foi apenas por sorte.

Aos 15 anos eu estudava no colégio Dante Alighieri e tinha uma vaga noção de que o pau estava comendo entre o Mackenzie e os alunos de filosofia da USP, e que o campo de batalha era a Rua Maria Antônia, que separava as duas escolas.

Muito mais eu não sabia, exceto que de um lado estavam os comunistas e de outro os de direita – integrantes do CCC, que era o Comando de Caça aos Comunistas – e que, dependendo de quem contava a estória, os mocinhos mudavam de lado, ora sendo os estudantes do Mackenzie, ora sendo os alunos da filosofia da USP.

Era um tempo em que o pau comia feio, e entre os alunos das duas faculdades teve alguns seriamente feridos, por conta de acreditarem de que o mundo tinha jeito e de que era possível mudá-lo.

Era também um tempo de festas boas, e depois delas, era o tempo de sairmos pela noite, e entrar nos inferninhos da boca do luxo, na Major Sertório, com carteirinha falsificada e gorjeta para os porteiros que, é claro, acreditavam mais nas gorjetas do que nas datas de nascimento escritas nas carteirinhas.

Era cedo para um menino de 15 anos saber o que estava em jogo, mas também era hora de cabular aula para ver o que estava acontecendo na cidade.

Era cedo para saber que a vida pode ser mais dura do que ficar de segunda época e que tem gente que nunca ficou de segunda época porque nunca foi a escola.

Era cedo para se saber das esquinas do mundo…

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.