A morte de Paulino Rolim de Moura
[Crônica do dia 5 de julho de 2006]
São Paulo acaba de perder uma de suas figuras mais curiosas. A morte de Paulino Rolim de Moura deixa a vida da cidade e a ordem dos cavaleiros andantes um pouco mais pobre.
Homem extraordinário, sua paixão pela mulher de sua vida, a poetisa Elisa Barreto daria material para uma saga. É destes amores que transcendem a morte e se espalham pelo infinito do universo, aonde os dois, agora, devem estar de mãos dadas, vendo a beleza de suas vidas refletidas nos espelhos do céu.
A última vez que estive com Paulino Rolim de Moura foi numa tarde de quinta-feira, na Academia Paulista de Letras, quando o programa “Pânico” decidiu lançar Bruna Surfistinha para acadêmica.
Imaginando que aquele senhor velho e pequeno era presa fácil, os apresentadores chegaram nele, com a moça ao lado, convencidos que a graça estava feita.
Mas quem riu de verdade foi Paulino que além de tudo que disse, ainda por cima beijou Bruna Surfistinha, comendo os comediantes pela perna, deixando o trio completamente sem reação, abatidos pelo tiro saído pela culatra, numa entrevista onde a vítima se transformou no leão. Pena que a edição do programa não tenha mostrado essa cena. A boa era ela.
Paulino Rolim de Moura editava um jornal mensal. Não era um jornal comum. Era a apologia da poesia de Eliza Barreto, para quem ele reivindicava o prêmio Nobel de literatura. Mas ele ia além. Colocava todas suas posições a respeito de todos os homens públicos, dando nome aos burros com uma transparência e uma crueza que poucos têm coragem de igualar. São estas qualidades dele que farão falta ao país. Cada dia mais, temos menos homens com caráter e coragem de dizer o que pensam.
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