O cinquentenário dos ônibus elétricos
[Crônica do dia 13 de maio de 1999]
Todo mundo, no mundo, um dia envelhece. Por incrível que pareça, até os ônibus elétricos, que, agora estão completando 50 anos, com os netos dos primeiros pioneiros rodando pela cidade prestando uma justa e bonita homenagem para seus maiores, que rodaram pelas mesmas ruas quando elas não eram tão esburacadas, nem o trânsito tão louco.
A pintura dos ônibus elétricos atuais – os trólebus – feita com reproduções de fotografias dos antigos elétricos que varavam São Paulo, silenciosos e sem poluição, quando eu era menino, é de muito bom gosto e alegra a vista, numa época que qualquer notícia boa, ou qualquer pretexto, é válido para melhorar o cotidiano de cada um.
Não sei de quem foi a ideia, mas é das quem merece parabéns, porque, em vez de seguir a linha fácil da violência estúpida que apavora a capital, ela vai no sentido diretamente inverso, resgatando imagens da mesma cidade, num tempo em que as coisas eram mais fáceis e ser do lado bom tinha suas recompensas.
Enquanto os ônibus das viações Campo Limpo e Pirajuçara vão apavorando a população, desabotinados pelas ruas e avenidas esburacadas, cometendo toda a sorte de loucuras imagináveis ou não, os ônibus elétricos, hoje representados por uma nova geração de potentes máquinas, muito mais bonitas do que os ônibus comuns, vão em sua trilha certa, balizada pelos fios, alegrando os olhos com sua decoração de festa que poderia ficar para sempre.
Tem muita gente que ainda se lembra dos homenageados nas suas laterais.
Gente um pouco mais velha que se servia deles com o conforto e o espaço que os ônibus de hoje, pelos motivos mais diversos possíveis, não oferecem mais.
O resgate do passado, numa cidade como São Paulo, que só neste século foi derrubada e reconstruída 3 vezes, é da maior importância para que os jovens não pensem que viemos do nada apenas para um dia retornar ao pó.
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