Um retrato do nosso trânsito
[Crônica de 19 de agosto de 1997]
Na quinta-feira passada, obedecendo direitinho o rodízio do rodízio, eu fui de taxi para a rádio. Assim que entramos na avenida Liberdade, demos com um caminhão velho na nossa frente. Sem placa e com os números apagados na carroceria, ele seguia impávido, impossível de ser identificado, ziguezagueando de um lado para o outro como se estivesse bêbado.
Dois ou três quarteirões na frente, o trânsito, como acontece regularmente na cidade parou. não por causa de engarrafamentos mais sérios, mas simplesmente porque o sinal fechou.
Trânsito parado, um ônibus, como também costuma acontecer na cidade, parou mais ou menos na pista do meio, o que, por seu tamanho, impedia que um carro passasse pela pista da esquerda.
O caminhão foi, foi, e tentou entrar onde ele não cabia. Com a carroceria alta e balançando, ele forçou, achando que dava, só que não deu. O resultado foi a carroceria bater no ônibus, arrancando o espelho retrovisor e arranhando a lateral.
Só que o caminhão não parou. Pelo contrário, ele continuou forçando a passagem, completando o serviço, como se não fosse com ele, ou o como se o ônibus não estivesse ao seu lado.
Com o sinal ainda fechado, ele tocou em frente, fumegando por todos os buracos, desembestado, avenida a fora, como se dependesse da sua correria a salvação do império mongol, ou qualquer coisa assim.
Na altura do viaduto da beneficência portuguesa, o caminhão, que ia na pista da esquerda, decidiu que era ali que ele queria sair.
Pois não hesitou e na cara duma perua da CET, simplesmente entrou à esquerda, sem se preocupar com os outros carros ou se o sinal estava aberto para eles. Varou e foi-se embora, graças a Deus, saindo da minha frente.
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