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Um retrato do nosso trânsito

[Crônica de 19 de agosto de 1997]

Na quinta-feira passada, obedecendo direitinho o rodízio do rodízio, eu fui de taxi para a rádio. Assim que entramos na avenida Liberdade, demos com um caminhão velho na nossa frente. Sem placa e com os números apagados na carroceria, ele seguia impávido, impossível de ser identificado, ziguezagueando de um lado para o outro como se estivesse bêbado.

Dois ou três quarteirões na frente, o trânsito, como acontece regularmente na cidade parou. não por causa de engarrafamentos mais sérios, mas simplesmente porque o sinal fechou.   

Trânsito parado, um ônibus, como também costuma acontecer na cidade, parou mais ou menos na pista do meio, o que, por seu tamanho, impedia que um carro passasse pela pista da esquerda.

O caminhão foi, foi, e tentou entrar onde ele não cabia. Com a carroceria alta e balançando, ele forçou, achando que dava, só que não deu. O resultado foi a carroceria bater no ônibus, arrancando o espelho retrovisor e arranhando a lateral.

Só que o caminhão não parou. Pelo contrário, ele continuou forçando a passagem, completando o serviço, como se não fosse com ele, ou o como se o ônibus não estivesse ao seu lado.

Com o sinal ainda fechado, ele tocou em frente, fumegando por todos os buracos, desembestado, avenida a fora, como se dependesse da sua correria a salvação do império mongol, ou qualquer coisa assim.

Na altura do viaduto da beneficência portuguesa, o caminhão, que ia na pista da esquerda, decidiu que era ali que ele queria sair.

Pois não hesitou e na cara duma perua da CET, simplesmente entrou à esquerda, sem se preocupar com os outros carros ou se o sinal estava aberto para eles. Varou e foi-se embora, graças a Deus, saindo da minha frente.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.