Almoçando no Rodeio de muito tempo atrás
[Crônica de 23 de maio de 2014]
Outro dia, almoçando lá, me lembrei do Rodeio de muito tempo atrás, quando eu ainda não trabalhava e às vezes meu pai me convidava para almoçar com ele.
Era um ritual complexo, que exigia que eu fosse de paletó e gravata porque era assim que um almoço de negócios deveria ser.
Se eu tinha algum negócio para tratar com ele durante o almoço? Normalmente não, mas, se tivesse, não seria nada que justificasse, nos padrões de hoje, um ritual tão complexo.
Fazer o quê? Ele era assim e era. Nada estranho para sua geração, que hoje teria mais de 90 anos de idade. O paletó e a gravata faziam parte do cerimonial, mas, ainda que formal, o almoço corria solto porque meu pai gostava de conversar com gente mais jovem e se divertia com nossas histórias, dúvidas e perplexidades.
O Rodeio era quase um templo, um lugar sagrado, onde os grandes homens de negócios costumavam almoçar. As razões para o almoço eram as mais variadas, desde o prazer de comer a picanha fatiada, até um encontro de negócios que poderia interferir no futuro de milhares de pessoas.
Naquela época ir ao Rodeio significava encontrar e até cumprimentar alguns dos homens mais importantes da cidade. Boa parte deles era amiga de meu pai, então o encontro não era mérito meu, mas dele, que me apresentava como o filho que em breve estaria começando nesta vida.
Eu gostava do ritual e gostava de almoçar no Rodeio. Me sentia importante, quase como se fizesse parte do grupo de amigos de meu pai.
Não sei se outros filhos tiveram a mesma sensação em situações parecidas, mas confesso que almoçar com meu pai no Rodeio, durante muito tempo foi mais do que um mero almoço.
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