A Rua Ásia
[Crônica de 31 de março de 2009]
A Rua Ásia seria uma simpática e pacata rua de bairro de classe média, não fosse ser usada como chegada para a Rua Lisboa. A ironia volta 500 anos no tempo. Era por Lisboa, depois de Vasco da Gama e da queda de Constantinopla, que os produtos do Oriente entravam na Europa.
A Carreira da Ásia foi a mais rica, proveitosa e longa rota da Coroa portuguesa. Através dela durante séculos a frota lusitana abasteceu os armazéns de Lisboa com as especiarias mais raras e mais caras colocadas à disposição da Europa.
Em São Paulo a história se repete na geografia urbana. Com certeza sem querer, a Rua Ásia encontra com a Rua Lisboa, e hoje, joga nela o fluxo que demanda a Avenida Sumaré.
Coisas do acaso, provando que o acaso não existe. Que tudo é uma única sequência, feita de inúmeras coincidências, que se sucedem e se sobrepõem, numa ordem além da nossa compreensão.
A Rua Ásia teria tudo para continuar uma rua arborizada com espatódeas, calma e gostosa com seus sobradinhos um ao lado do outro, dando um ar de interior para o pedaço. Mas o progresso chegou e cobrou seu preço. A Rua Ásia foi o caminho natural para quem segue em direção ao Parque Antártica, saindo da Vila Madalena.
É acabar o cemitério São Paulo, pegar a esquerda e depois na bifurcação a direita. Já é a Rua Ásia. E ela segue numa curva suave que joga os carros num cruzamento delicado, justamente com a Rua Lisboa, onde motoristas mais neuróticos entram de qualquer jeito, fechando o cruzamento, na melhor prova de que o trânsito é uma fábrica de loucos.
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