Poluição

[Crônica de 9 de agosto de 2005]

De acordo com os técnicos mais especializados no assunto, o planeta não tem mais capacidade de absorver os excessos de CO2 produzidos pelo homem e que contaminam a atmosfera. Não sei quanto de futurologia tem na informação, nem qual a capacidade real do planeta se regenerar, inclusive porque nunca, desde que estamos por aqui, aconteceu um fenômeno parecido, para poder comparar os fatos e ficar, ou não, otimista.

Que nós estamos perdendo a noção do que é poluir não há dúvida. É só olhar São Paulo numa manhã de inverno, hipoteticamente de céu azul, e com o tempo quente, como tivemos ao longo da semana passada.

A cidade fica coberta por um cobertor marrom, denso, grosso e feio, como a entrada do inferno. O ar fica opaco, o horizonte fica curto. A vida se encolhe, vendo o lado escuro do progresso abafar a cidade indefesa ante o assalto assassino, aumentado pela falta de vento e pela baixa umidade do ar.

Mesmo do alto da praça Pôr do Sol, a perspectiva é triste, de fim de mundo, depois de uma guerra nuclear. O verde das árvores esmaece. O azul do céu fica escondido, os prédios surgem como torres de filme de ficção científica, perdidas num planeta inóspito, noutra galáxia com quem vivemos em guerra.

É triste ver amanhecer assim. Feio e triste, como um estádio de futebol cheio, mas com as torcidas sem bandeiras, quietas, sem gritar gol, nem torcer nas jogadas mais bonitas. 

A poluição é feia. É venenosa. É mortal. Mas a cada ano que passa cresce, fica mais densa, mais presente, mais imponente, como se tentássemos nos suicidar pondo fogo num botijão de gás.
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