O azul do mar começa a mudar de cor
O mar é azul, o mar é verde, o mar é cinza, o mar é negro. O mar tem várias cores, depende do fundo, das algas, do sol, da lua, do que fazem com ele.
Isso mesmo, do que fazem com ele. O mar bem tratado retribui, limpo, com águas transparentes, convidando para o mergulho. O mar maltratado não agradece, ao contrário, responde mal, fica mal-humorado, bate forte nas pedras, avança na areia, engole ruas e casas com a sem cerimônia de quem sabe que é mais forte e que não vê razão para ser maltratado.
O brasileiro trata mal seu litoral, suja as águas, constrói onde não pode, desbarranca as encostas, solapa os costões, espanta os peixes, cria desertos debaixo d’água, substituindo recifes saudáveis por uma massa esbranquiçada de seres mortos.
O óleo derramado de barcos, navios, refinarias faz parte da areia na composição das praias. Gruda na sola dos pés, como um carimbo dizendo que você esteve numa praia que já foi bela, mas hoje está poluída, suja, ameaçando a vida, como os restos de rede que se enrolam nos peixes e nas tartarugas.
Prédios de 40 andares tapam o sol e criam sombras nas praias e, para recuperar a luz, aterram o mar e o empurram para longe, com desenlaces fantásticos, como os tubarões nadando na arrebentação próxima.
A capacidade de destruição atinge picos inacreditáveis. Lugares maravilhosos são destruídos para construção de prédios improváveis, que maculam a paisagem e recebem milhares de pessoas que maltratam o envolta.
Não há muito a ser feito. Enquanto não tomarmos consciência de que estamos arrasando o litoral mais bonito do planeta, tem pouca coisa que pode dar resultado. O risco é, quando acordarmos, ser tarde demais.
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