As paineiras continuam aí
As paineiras este ano entraram em cena mais cedo, mas estão querendo sair mais tarde. Várias delas continuam firmes e fortes e com suas floradas em forma, enfeitando a vida de quem passa perto.
Desde menino sempre gostei das paineiras. Na fazenda de Louveira, na época em que os frutos das paineiras amadureciam, tia Vera nos levava para catá-los. Em seguida, ela os abria, retirava a paina, colocava para secar e, quando estavam secas, enchia os travesseiros.
Mário de Andrade tem uma poesia cujo primeiro verso é: “Esta impiedade da paineira consigo mesma…”
Desde que li a poesia, gravada na lareira de um tio-avô, sempre discordei do grande poeta.
Os espinhos da paineira não são para espantar, nem para causar medo. Quem floresce com a ternura das pétalas de suas flores não pode querer machucar. No máximo, é tímida e estabanada e não sabe como deixar os outros chegarem nela.
As flores das paineiras são delicadas, leves, finas, com cores suaves. Não são como as rosas que, em seu repolho deslumbrante, são rijas e fortes.
Não, as flores das paineiras não aguentam violência, nem tempo ruim. Tanto que, depois das tempestades, o chão em volta das árvores fica coberto de flores arrancadas pelo vento e pela chuva.
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Dizer que as paineiras continuam floridas porque são a favor ou contra o governo seria sandice da mais rematada. Ao contrário dos absurdos postados nas redes sociais, as paineiras têm noção de ridículo.
A única razão de sua florada continuar firme e forte, enfeitando São Paulo, é porque é assim que deve ser. Cada um tem sua hora e sua vez, seu tempo de brilhar. O tempo das paineiras é este. Sorte nossa que as vemos floridas todos os dias.
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