Debret e Rugendas revisitados
As gravuras de Debret e Rugendas mostram um Brasil pitoresco, aliás, como eles mesmos chamaram nosso país, ao retratarem a realidade cotidiana da primeira metade do século 19.
São capitães do mato, escravos tigres, escravos na senzala, índios, europeus, a família imperial, padres, cenas do cotidiano, paisagens, etc, num amplo espectro da sociedade e da vida no Rio de Janeiro e no interior do país.
A maioria das gravuras retratando negros e índios os mostram invariavelmente nus, quase nus ou com roupas rasgadas, que era efetivamente como se vestia, no dia a dia, a parte mais pobre da população.
População que, pouca gente sabe, entrou nas preocupações do rei D. João VI, que mandou povoar o litoral brasileiro com sardinhas trazidas de Portugal para garantir nas refeições dos pobres e escravos a dose de proteína indispensável ao corpo humano.
Voltando às gravuras, elas retratam cenas curiosas e não desandam para a miséria extrema, miséria que vemos hoje nas mais variadas ruas da cidade, entre elas, o cartão postal de São Paulo, a mítica Avenida Paulista, sede da grande capital que move a economia nacional.
Hoje, as gravuras de Rugendas e Debret seriam trágicas, porque as pessoas seminuas, que andam de um lado para o outro, dormem embaixo das marquises dos prédios e nas portas das lojas, tomam banho nos laguinhos do MASP, bebem a água que escorre dos canos de edifícios que jogam na rua a água de nascentes em seus terrenos, não são escravos, nem índios – são adictos, viciados em crack e outras drogas que consomem corpos e mentes e, acima de tudo, retiram deles qualquer resquício de dignidade. A pergunta é: como resolver esta tragédia?