Dia de chuva
O inverno é a estação seca, ou quase. De repente, chove e chove muito e chove forte. É verdade que, antes das chuvas, normalmente os dias ficam quentes, o que contrasta com o clima esperado para a época do ano, em princípio, frio e seco.
Mas a chuva vem e os dias de chuva, durante o inverno, costumam ser dias tristes. Dias cinzas, nos quais a melancolia apaga a vontade de rir e mesmo a florada dos ipês não consegue quebrar a nostalgia de qualquer coisa completamente fora de esquadro, que bate no peito, como uma profunda saudade.
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Saudade de viagens que não foram feitas, de locais desconhecidos, de faces nunca vistas, de poemas jamais ouvidos.
Saudade dos amores que poderiam ter sido, das vezes que se poderia ter ido mais longe, em que o sonho era viável e a felicidade apenas mais um tijolo pra se colocar no muro.
Cinza e triste. O dia segue impassível, na chuva que cai mais forte do que a antiga garoa que não cai na cidade faz muitos anos.
São Paulo foi da garoa e do frio úmido. Agora, é dos invernos quentes, com poucos dias frios, que costumam seguir as chuvas que os antecedem como telefone que toca de noite.
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Os dias azuis de outono abrem espaço para os dias cinzas e úmidos que anunciam o inverno e a força cruel do frio que se abate sobre a cidade.
São Paulo não foi feita para temperaturas tão baixas, ainda que durem poucos dias. A cidade não está preparada para os rigores do inverno de clima temperado que brinca de maltratar as pessoas.
A chuva anunciando o frio cai sem se preocupar com quem está nas ruas, com quem não tem abrigo, com quem queria que fosse diferente.
Para ela tanto faz. Sua missão é molhar e, na cola, trazer o frio.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.