Subindo de ré
Outro dia dei com um Simca Chambord na Avenida Sumaré. O carro estava inteiro, completo e impecável, com a chapa preta dos colecionadores.
Ao ver o carro disputando espaço com os carros atuais, senti um misto de carinho e saudade. Não vontade de voltar no tempo, para os anos 1960, mas das histórias daquela época, em que discussões intermináveis varavam a noite, regadas a Old Eight, para estabelecer se o Simca era melhor que o Aero Willys ou vice-versa.
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Os dois eram os carros de luxo da época. Tinha Fusca, Gordini, DKW, mas estes eram carros sem maiores luxos. Os legais, os topos de linha, eram o Aero Willys e o Simca.
O Simca tinha motor V8 e o Aero Willys motor de 6 cilindros. Diz a lenda que o Simca andava mais, mas, se é verdade, também é verdade que o Simca não era muito resistente e também não era famoso pela força.
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Tio Júlio Salles e tio Lula tinham Simca; meu pai, tio Chiquinho e tio Paulo tinham Aero Willys.
Enquanto isso, tio Julinho ia de Mercedes, Tio Júlio Neto de Ford Comet, tio Ruy de caminhonete Ford F 100 e tio Caco de JK.
Sem querer desmerecer o Simca, até hoje me lembro de uma vez em que tio Lula estava com a molecada no seu Simca e, para chegar na sua casa, tinha que subir uma ladeira íngreme nas encostas do Pacaembu.
O carro precisou subir de ré, com todo mundo dando gargalhada, porque, de frente, o motor não tinha força para chegar no topo.
Para quem acha que o mundo automobilístico brasileiro acabava aí, vale lembrar algumas preciosidades como o Karmann Ghia e os Willys Interlagos, os carros-esporte nacionais, capazes de rodarem, no máximo, incríveis cento e poucos quilômetros por hora.
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