Avós, pais, filhos e netos
A vida é uma longa corda, que fica sempre mais comprida, adicionando novos pedaços aos pedaços anteriores.
Grande parte de nós conheceu pelo menos um avô ou uma avó. Também conhecemos pai e mãe. Depois vieram os filhos, que também têm filhos e, de repente, olhando em volta, descobrimos que somos os avós do começo da história.
Invariavelmente, a lembrança dos avós tem muito de uma pessoa idosa, com jeito de idosa, com as dificuldades dos idosos, vestida e vivendo como uma pessoa idosa.
A última lembrança dos pais também costuma ser a imagem de pessoas idosas, que tomaram o lugar dos avós.
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Aí vêm os filhos, e estes serão sempre crianças, até cinquenta anos depois.
Onde a coisa pega é que, com a passagem dos anos, nós ficamos velhos, nos tornamos os idosos, os pais e avós, só que, ao contrário da lembrança que temos dos nossos avós e dos nossos país, não nos consideramos velhos, estamos prontos para o que der e vier.
Hoje, olhando para trás e lembrando do meu pai, os últimos anos foram muito difíceis, mas até oitenta ele saía para pescar ou viajava para a fazenda de um tio para andar pela Mata Atlântica, na Serra do Mar.
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Aos oitenta anos ele estava inteiro, tinha seus amigos, sua turma, bebia seu uísque nos finais de tarde, jantava fora, lia, conversava e ficava bravo porque, como ele dizia: “as pessoas não percebem que eu fiquei velho, não fiquei idiota.” Ele não se conformava com a maneira como era tratado porque estava com oitenta anos de idade.
Agora, somos nós que estamos na linha de frente. A geração de meus pais já partiu. Como será que os filhos e os netos nos veem? Será que para eles já somos velhos ou será que ainda falta um tempo para isso acontecer?
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.