O décimo primeiro canto
Camões compôs Os Lusíadas em dez cantos. Ficou faltando o décimo primeiro, justamente o que falaria das façanhas portuguesas na América do Sul, empreitada sobre-humana, realizada por europeus a serviço do Rei de Portugal, que garantiu a formação e consolidação do que hoje é o Brasil.
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Não o Brasil atual. Este é uma criação de D. Pedro I, que transformou o enorme território conquistado ao longo de três séculos numa nação una, forte, com fronteiras definidas e sonhos em comum. Mas o imenso território, parte português desde o início, parte arrancada dos espanhóis, que foi se formando na marcha irrefreável dos bandeirantes que nunca respeitaram o tratado de Tordesilhas e que, em sua saga fantástica, escalaram os Andes, desceram o Amazonas, se espalharam pelos pampas, abriram o São Francisco e arrancaram das matas Sabarabuçu, Goiás e Mato Grosso.
O Décimo Primeiro Canto pautou a imensa poesia de Paulo Bomfim, no Armorial da conquista da terra, sem qualquer interrupção, na sequência da conquista do oceano.
“Para que fosses nosso, ó Mar”, quantas terras arrancamos das matas? Quantas Lagoas Douradas? Quantos Paraopebas? E os infinitos Eldorados validando as lendas…
Quem foram os homens que entraram sertão a dentro na busca dos sonhos, das esperanças e das certezas que os fizeram varar vales, escalar morros, conquistar terras, pelas trilhas, Peabirus e cursos de rios, que os levavam e os traziam de volta para São Paulo ou os deixavam, flechados, dormindo eternamente no solo das matas.
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“Primeiro foi o mar… depois houve caminhos e sementes: o sonho despertou areias brancas e a treva amanheceu em madrugada”. Homens escreveram com sangue o Décimo Primeiro Canto. Ah, Paulo Bomfim, que nas matas da eternidade você encontre os que não voltaram…
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.