O meu é melhor que o seu
O Deus dos judeus e o Deus dos cristãos é o mesmo. Mais que isso, o Deus dos judeus é o Pai do Filho do Deus dos cristãos e, no entanto, milhões de pessoas, em mais ou menos dois mil anos, foram mortas por divergências a respeito da adoração ao mesmo Deus.
Confesso que para mim é difícil entender como, se o Deus é o mesmo, pode haver comparação ou competição a respeito dele e de seu poder e de sua verdade. Como se matar pela forma se o importante é o conteúdo?
Deus é Deus. A simples ideia de Deus não admite interpretação pelo ser humano. Quem é o ser humano para interpretar o divino?
Mas, na prática, a coisa funciona de outro jeito. Desde o começo da Bíblia a matança corre solta por conta de que Deus é melhor.
OK, no começo, os deuses não eram os mesmos, então fazia algum sentido as pessoas se matarem em nome de um deus mais poderoso que outro, ou protegidas por um deus mais forte que o do inimigo.
Mas, de um momento em diante, grosso modo, a Europa passou a conviver basicamente com um único Deus, senhor do universo, da vida e da morte e do destino de todos nós.
Pois é justamente a partir daí que o europeu acelera o massacre, matando gente de todas as origens, em vez de prosseguir sua guerra particular contra os infiéis.
Com as navegações portuguesas, a Europa se torna pequena. O simples massacre de judeus, hereges e muçulmanos não é mais suficiente. A matança se espalha pelo mundo inteiro. Sempre em nome do Deus da compaixão e do amor.
Confesso que fico apavorado cada vez que penso nisso. Deus é Deus. As religiões são apenas a forma de homenageá-lo.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.