Os números da pandemia
No mundo todo, uma das armas mais eficazes contra o coronavírus tem sido a testagem maciça da população. Testes e mais testes e milhões de testes são realizados diariamente ao redor do globo.
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Além deles, o isolamento social, por bem ou por mal. Sem transigir, sem exceções, apenas o pessoal cujo trabalho é indispensável para o funcionamento da sociedade têm autorização para sair de casa.
No Brasil é ao contrário. Mas nós é que entendemos a pandemia. Por isso o grande líder insiste num medicamento que não tem comprovação que funciona e que sabidamente tem efeitos colaterais devastadores e propõe uma quarentena vertical, ao mesmo tempo que baixa uma Medida Provisória que exime de responsabilidade os servidores públicos, incluído ele, que, no exercício do cargo, causarem danos em função da pandemia.
Numa entrevista pra tapar o sol e afirmar o avesso, um ministro explicou que o Brasil não tinha ultrapassado a França em número de casos confirmados de covid19 porque a França tinha menos habitantes. Assim, proporcionalmente, nossa taxa de contágio era muito menor. Na sequência, outro ministro, novo no cargo e sem familiaridade com a área da saúde, liberou o uso amplo e irrestrito da cloroquina.
Mas, mais grave do que isso, como o país não consegue testar os pacientes internados nem os mortos, nossos números são chutes, com a mesma exatidão científica dos oráculos do mestre da astrologia.
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Tem quem diga que os números reais são pelo menos quatro vezes maiores. Devem ser, se não forem maiores ainda. As estatísticas brasileiras são tão confiáveis quanto a medição dos congestionamentos de São Paulo, feita pela CET. A CET mede o congestionamento de menos de 20% das ruas e dá como o total da cidade. O governo segue o modelo com a covid19. E, com os números subdimensionados, prova que somos os melhores.
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