Tia Maria do Carmo
Tia Maria do Carmo morreu. Depois de uma longa vida, bem vivida, boa e generosa, aos cento e um anos de idade, tia Maria do Carmo morreu.
Minha primeira lembrança dela me remete à fazenda de Itupeva. O Sergio, o Julinho e eu, de noite, na beira do açude, pescando com uma tarrafa que era jogada rodando para cair n’água aberta e, puxada pelas chumbadas, fechar em cima dos peixes.
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Lembro das jabuticabeiras, da casa gostosa, da sala ampla e dela e de tio Luizinho conversando com a gente.
Também lembro da fábrica de goiabada que tio Luizinho montou para tia Donana, mãe de tia Maria do Carmo. Ela fazia uma goiabada deliciosa, que era vendida em São Paulo, embalada em caixas de madeira.
Quando eu era criança, eles moravam ao lado da Avenida Paulista, numa casa com quintal grande, que hoje é parte do terreno do Edifício Eluma, na Avenida Paulista.
Depois, ela e tio Luizinho foram morar num amplo apartamento, nos Jardins. Apartamento que invariavelmente tinha gente visitando, porque uma das grandes qualidades de tia Maria do Carmo era sua capacidade de atrair e agregar pessoas, que a procuravam porque, além de ser doce, ela foi das mulheres mais fortes e positivas que eu conheci.
Seu marido, tio Luizinho, gostava de mim e eu dele. Nós conversávamos em alemão e ríamos porque os outros não entendiam.
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Sua filha, Ana Maria, foi das mulheres bonitas de São Paulo e até hoje sua beleza é evidente. Mas, mais do que bonita, Ana Maria é a prima mais velha que mal olhava para o primo menino, mas que, depois, ficou amiga do homem. E os filhos homens de tia Maria do Carmo, o Luizinho e o Sergio, mais que primos, são dois amigos queridos, de uma vida inteira. Tia Maria do Carmo e sua família estão entre as lembranças boas de minha história.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.