Veio, venceu e foi embora
Quando esta crônica for ao ar, eles já não estarão mais floridos. A florada dos ipês brancos é rápida.
Deslumbrante, mas rápida. Quem sabe por ser deslumbrante ela é rápida. A beleza levada ao último movimento pode ser sufocante, fazer mal, confundir os sentidos.
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É difícil afirmar que a florada dos ipês brancos é mais bonita do que a dos outros ipês, que o branco é o mais belo de todos. Falar isso é ser desmentido pela evolução da vida, com a entrada em cena dos ipês amarelos e dos ipês rosa.
Todos os ipês são muito, mas muito bonitos. E eles entram em cena numa hora fácil de comparar. Quase junto com eles, as azaleias, as patas de vaca e os manacás também dão as caras.
Dizer que os ipês são mais bonitos é tomar partido. É que nem torcedor de time de futebol: o dele é o melhor porque ele quer. Tem milhares, milhões de pessoas que não vão concordar e têm centenas de motivos estéticos, filosóficos, políticos e até religiosos para mostrar que não é bem assim, que a coisa é diferente e o buraco bem mais embaixo.
Por exemplo, o São Paulo tem o direito divino de ser campeão toda vez que quiser. Ele só não exerce seu direito regularmente para não deixar as outras torcidas desanimadas e os campeonatos monótonos.
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Os ipês brancos são são-paulinos. Os amarelos, roxos e rosas também, é questão de estética e beleza, na poesia do cosmos. Imagine um ipê que não fosse são-paulino. Seria uma árvore triste, com galhos finos e tortos e florada mixuruca.
A semana do ipê branco é única, rápida como um cometa cortando o céu, boa como a chuva caindo numa tarde de primavera. Fugaz, passa como passam os sonhos, mas deixa a lembrança de sua enorme beleza na certeza da espera da florada do ano que vem.
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