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Veio, venceu e foi embora

 

Quando esta crônica for ao ar, eles já não estarão mais floridos. A florada dos ipês brancos é rápida.

Deslumbrante, mas rápida. Quem sabe por ser deslumbrante ela é rápida. A beleza levada ao último movimento pode ser sufocante, fazer mal, confundir os sentidos.

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É difícil afirmar que a florada dos ipês brancos é mais bonita do que a dos outros ipês, que o branco é o mais belo de todos. Falar isso é ser desmentido pela evolução da vida, com a entrada em cena dos ipês amarelos e dos ipês rosa.

Todos os ipês são muito, mas muito bonitos. E eles entram em cena numa hora fácil de comparar. Quase junto com eles, as azaleias, as patas de vaca e os manacás também dão as caras.

Dizer que os ipês são mais bonitos é tomar partido. É que nem torcedor de time de futebol: o dele é o melhor porque ele quer. Tem milhares, milhões de pessoas que não vão concordar e têm centenas de motivos estéticos, filosóficos, políticos e até religiosos para mostrar que não é bem assim, que a coisa é diferente e o buraco bem mais embaixo.

Por exemplo, o São Paulo tem o direito divino de ser campeão toda vez que quiser. Ele só não exerce seu direito regularmente para não deixar as outras torcidas desanimadas e os campeonatos monótonos.

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Os ipês brancos são são-paulinos. Os amarelos, roxos e rosas também, é questão de estética e beleza, na poesia do cosmos. Imagine um ipê que não fosse são-paulino. Seria uma árvore triste, com galhos finos e tortos e florada mixuruca.

A semana do ipê branco é única, rápida como um cometa cortando o céu, boa como a chuva caindo numa tarde de primavera. Fugaz, passa como passam os sonhos, mas deixa a lembrança de sua enorme beleza na certeza da espera da florada do ano que vem.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.